terça-feira, 15 de novembro de 2016

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA – Apenas mais um golpe?


Mais uma vez “comemoramos” o feriado de 15 de novembro, dia da Proclamação da República. O que temos a lembrar nessa data?

Ficaram famosas as considerações de Aristides Lobo sobre a Proclamação da República, para o qual o povo teria assistido a tudo aquilo “bestializado”, sem nenhum protagonismo. Será verdade isso? Para responder essa indagação é preciso olhar o Brasil do Segundo Reinado, especialmente após a Guerra do Paraguai.
O Império, apesar do fôlego que ganhara com a custosa vitória militar no Paraguai e com a expansão econômica ancorada na produção de café, foi perdendo apoio de vários setores da população gradativamente. Um deles foi a Igreja Católica, com a qual D. Pedro II tivera rusgas devido ao Beneplácito Régio (autorização do Imperador para que o clero pudesse implementar as orientações do Papa) e a maçonaria. Ao mesmo tempo, crescia o movimento abolicionista, que pressionava o imperador entre a parte progressista da opinião pública e a resistência negra por um lado, e o apoio das elites conservadoras e escravocratas, por outro.
Em 1888 é assinada a Lei Áurea, conquista de três séculos de luta dos negros, e não da suposta bondade de uma princesa. A libertação dos escravos jogou a elite escravocrata contra Dom Pedro II, assim como também não lhe trouxe o apoio da maioria dos abolicionistas, que a consideraram tardia (o Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão). O gabinete ministerial era instável, e pairava o descontentamento sobre a linha sucessória do Império. D. Pedro II só tinha filhas, e muitos receavam que o trono parasse nas mãos do francês Conde D’Eu, marido da Princesa Isabel.
É nesse contexto que vai se desenvolvendo cada vez mais a ideia da República. Desde a década de 1870, os republicanos vieram desenvolvendo uma atividade constante. Iniciando no Manifesto Republicano, passando pela famosa Convenção de Itu, e espraiando-se em diversos clubes republicanos pelos municípios. Um setor que adere consideravelmente à ideia dessa nova forma de governo é o dos militares. Influenciados pelo Positivismo e descontentes com a subordinação a um gabinete majoritariamente civil, a ideia de mudar a forma de governo se difunde na alta oficialidade do Exército.
Na madrugada de 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca foi convidado a liderar um levante militar. Destituiu o Chefe de Gabinete Visconde de Ouro Preto, sem resistência armada. Tropas desfilaram pela capital Rio de Janeiro, e a República foi proclamada na Câmara Municipal. D. Pedro II, que estava em Petrópolis, foi informado e voltou à capital, mas não ofereceu resistência. Ele e sua família foram exilados na Europa.
Deodoro se torna então o primeiro presidente, sendo depois sucedido por outro militar, Floriano Peixoto. Após Peixoto, vai se consolidar a chamada “República do Café-com-leite”, um acordo político de alternância na presidência entre candidatos das oligarquias paulista e mineira.
O episódio de 15 de novembro foi um golpe arquitetado e executado por militares com apoio de oligarquias rurais. A maioria da população trabalhadora não participou dos eventos, e em grande parte, nem sabia que a movimentação de tropas na rua se tratava da destituição de D. Pedro II. Mas isso não significa que os trabalhadores e a população pobre do período não lutassem contra as desigualdades sociais.
A população negra resistia desde o período colonial contra a escravidão. Fugia das fazendas, criava quilombos, lutava pela abolição. As contradições sociais aumentavam nas cidades e no campo. A introdução do trabalho assalariado imigrante e o início da industrialização provocavam crescimento urbano e tensões sociais cada vez maiores pelo direito à moradia. A Lei Áurea libertou a população negra, mas a deixou sem perspectivas de inserção no “mercado de trabalho” assalariado. As lutas aumentavam de modo geral. Antes que a população trabalhadora fizesse algo, os militares e as elites fizeram. Mudaram a forma de governo, para preservar os mesmos interesses econômicos.
Se a população não se entusiasmou com o 15 de novembro, é porque a mudança proposta, de um imperador para um presidente eleito, não alterava em nada a sua situação de exploração. A direção do movimento era das elites e da alta oficialidade; nada poderia oferecer de realmente progressista além de acabar com a instituição cadavérica da monarquia. Mesmo sem existir no momento uma direção que pudesse reunir os trabalhadores e pobres para lutar por seus interesses, a burguesia e os militares se adiantaram. Para relegitimar seu poder, tentaram dar uma aparência democrática a um novo arranjo institucional que mantinha a mesma condição de país periférico, racista, exportador de produtos primários e dependente do capital inglês.
Ante um governo fraco e as lutas que se fortaleciam, a República foi uma manobra das elites. Mais um golpe militar da história brasileira.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Rubens Jr conversa com acadêmicos e professores sobre a PEC 241

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Um debate amplo, com pontos de vista diferentes sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241/2016, aprovada na Câmara dos Deputados em Brasília, foi tema do debate entre alunos e professores da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB, que lotaram nesta sexta-feira (28), o Teatro Maria Izabel Rodrigues para entender e esclarecer dúvidas sobre a medida de iniciativa do Governo Federal a que limita a variação dos orçamentos da saúde em educação a no máximo a inflação, sem permitir adequação às demandas do país por um período de 20 anos.
A convite do coordenador do curso de direito da UNDB, Igor Almeida o vice-líder do PCdoB na Câmara, Rubens Pereira Jr. e o superintendente do IBGE e professor mestre Marcelo Virgínio de Melo, explanaram sobre este tema tão importante para sociedade.
Sobre a proposta, os favoráveis colocam sua aprovação como uma medida urgente e necessária para restaurar a confiança na economia, sinalizando dessa forma uma nova orientação do Estado em relação a responsabilidade de seus gastos. Os contrários, acenam aos riscos reais de achatamento dos gastos sociais: saúde, educação e redução real do salário mínimo. A proposta é vista por estes como um ataque a todo um projeto de civilização e de sociabilidade.
Na oportunidade, Rubens Jr. explicou que os últimos dois anos foram de recessão para o país e que a PEC instaura o Novo Regime Fiscal, que visa impor um teto ao avanço dos gastos públicos primários e congelá-los por 20 anos, prorrogando a crise por mais 20 anos. O deputado ainda concordou, que ninguém pode gastar mais do que arrecada. “A PEC escolhe como vilão os gastos primários. Quando você vincula um gasto a inflação, o que você está fazendo, na prática, é instruindo o crescimento real zero. O que estará congelando a saúde, educação, combate a corrupção, salário e segurança. E nós não podemos tratar estes gastos como um gasto qualquer”, disse.
O parlamentar também explicou que se o Brasil voltar a crescer o país não vai poder gastar mais com saúde e educação. “Mesmo que a economia volte a crescer, o Estado já vai ter decidido congelar a aplicação de recursos em setores considerados críticos e que já não atendem a população como deveriam e muito menos no nível dos países desenvolvidos. Se a economia crescer, e o teto seguir corrigido apenas de acordo com a inflação, na prática, o investido nestas áreas vai ser menor em termos de porcentagem do PIB (toda a riqueza produzida pelo país). A PEC fala grosso para os gastos primários e fino para os gastos financeiros, ” ressaltou Rubens Pereira Jr.
Para o professor, Marcelo Virgínio, durante sua exposição, abordou os pontos favoráveis e contrários da medida. Segundo ele, “o congelamento é interessante em alguns sentidos”. “Há falta de planejamento a longo prazo no Brasil. Com a PEC, tem-se, efetivamente, um plano fiscal. Melhoria do orçamento público de modo global, maior controle e eficiência dos gastos são alguns dos resultados esperados”, apontou. Ele acredita que a medida deveria ter sido melhor discutida e repassado mais esclarecimentos para a população.
A votação da PEC 241 
Tida como prioridade pelo governo do presidente Michel Temer para reequilibrar as contas públicas, a PEC foi aprovada pela Câmara em segundo turno, por 359 votos a 116 (e 2 abstenções) e, agora, passará a ser analisada pelo Senado, sob a numeração de PEC 55.
A mudança na numeração da PEC não implica necessariamente em uma mudança no conteúdo da proposta (os senadores ainda analisarão o texto e poderão propor alterações). De acordo com a Secretaria-Geral da Mesa, a modificação ocorre para organizar o sistema do Senado.