quinta-feira, 27 de julho de 2017

Jesus líquido


O maior erro do conhecimento consiste em confundir proposições (Wittgenstein)
Em seu filme ‘Andrei Rublev’ (1966), o cineasta russo Tarkovski conta que Rublev (início do século XV), excelente pintor de ícones bizantinos, ao ser convidado pelo Patriarca de Moscou a pintar o quadro do Último Juízo para a Catedral da Anunciação no Kremlin, não consegue executar a obra. Não consegue pintar um Jesus a condenar os pecadores a um inferno sem fim. Um século depois, em Roma, Michelangelo não vê problema nisso. Convidado a pintar o mesmo quadro para a Capela Sistina no Vaticano, pinta um Jesus que, com um só gesto de seu poderoso braço, condena uma parcela da humanidade ao inferno, enquanto eleva a outra parte à eterna felicidade do céu. Ao contrário de Michelangelo, Rublev não suporta a imagem de um Jesus que condena ao inferno.
Pelo que sabemos, Rublev não foi condenado pelo Patriarca de Moscou por não conseguir pintar um Jesus ‘Juiz dos vivos e dos mortos’, nem Michelangelo incorreu em censura eclesiástica por pintar um Jesus que condena os pecadores às penas do inferno. Como explicar sentimentos tão divergentes acerca de Jesus? Aqui dei apenas um exemplo, entre muitos, que podem ser aduzidos par mostrar que, afinal, o conhecimento  humano acerca de Jesus é – para usar uma expressão do pensador polonês Zygmunt Bauman – ‘líquido’, não ‘sólido’. É como água derramada num copo: assume a forma do copo. Se a derramar sobre a mesa, ela vai assumir a forma da mesa antes de se espalhar pelo soalho e assumir a forma deste. Se você, pelo contrário, colocar um biscoito sobre a mesa, ele vai conservar sua forma: é sólido. Ora, raciocina Bauman, o conhecimento humano se adapta aos ‘recipientes’ (tempos, espaços, intencionalidades, táticas, contextos, mentalidades). Como já dizia Tomás de Aquino no século XIII: ‘o que se recebe toma a forma do recipiente’ (quod recipitur ad modum recipientis recipitur). O ‘recipiente’ Rublev recebe a mensagem de Jesus de modo diferente do ‘recipiente’ Michelangelo, e isso se deve a diversos fatores. Bauman escreveu sucessivos livros para demonstrar isso: ‘Amor líquido’, ‘Medo líquido’, ‘Modernidade líquida’, ‘Tempos líquidos’, ‘Vida líquida’, ‘Vigilância líquida’, além de ‘44 Cartas do mundo líquido moderno’ (Zahar, Rio de Janeiro, 2011).
O engodo do conhecimento sólido.
Uma das maiores conquistas filosóficas do século XX, talvez a maior, consiste na ‘reviravolta linguística’ (veja Manfredo de Oliveira, Reviravolta linguístico-pragmática na filosofia contemporânea, Loyola, São Paulo, 1997). Filósofos linguistas como Ricoeur, Bakhtin, Chomsky, Wittgenstein e outros criticam a epistemologia ocidental tradicional por não prestar a devida atenção à ‘fluidez’ do conhecimento humano. Em suas ‘Investigações Filosóficas’ de 1953, por exemplo, o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein repete, ao longo de 693 aforismos e dos mais diversos modos, que as enunciações humanas não têm a solidez que se lhes costuma atribuir. Os homens não emitem conceitos estáveis, válidas além do tempo e do espaço. Suas enunciações expressam ordens, desejos, exortações, sentimentos, intuições, imaginações, enigmas, poesias, artes, cálculos, pedidos, agradecimentos, orações, meditações etc., mas não verdades eternas (Wittgenstein, L., Investigações Filosóficas, Vozes, Petrópolis, 2005, n. 23, p. 27). A linguagem humana é feita de significados provisórios e passageiros. Isso significa que sua correta significação depende da interpretação do contexto em que está sendo pronunciada. Quando um pedreiro grita: ‘tijolo!’, ele não ‘define’ nada. Ele quer que o servente lhe passe um tijolo. A frase ‘bom dia!’ não diz nada acerca do dia, assim como ‘creio em Deus!’ costuma significar ‘mereço confiança’ e  a frase ‘tenho fome’ costuma expressar um pedido. Nas falas do dia-a-dia, perceber essa liquidez do discurso é fácil, mas quando temos diante de nós letras escritas (principalmente as que provêm de muitos tempos atrás, de culturas que não são mais as nossas), a interpretação fica difícil. É de se estranhar que grandes filósofos da tradição ocidental, como Platão, Aristóteles ou Agostinho, não tenham dado a devida atenção a esse tipo de problema. Pelo contrário, eles deram a impressão que o ser humano fosse capaz de adquirir um conhecimento sólido e de formular ‘conceitos’ capazes de ‘captar’ definitivamente as coisas, por meio de suas palavras. Mesmo Descartes e a maioria dos filósofos modernos deixaram de premunir as pessoas contra o perigo de palavras aparentemente sólidas, mas que na realidade são fluidas, às vezes enganosas, outras vezes tão confusas que levam as pessoas a um ‘labirinto de palavras’, das quais não conseguem sair.
Nosso conhecimento de Jesus não escapa a essa regra. É líquido.  O escritor americano Jaroslav Pelikan publicou em 1985 um livro que apresenta uma impressionante variedade de imagens de Jesus, ao longo dos tempos, muitas delas contraditórias: (Pelikan, J., A imagem de Jesus ao longo dos séculos, Cosac & Naify, São Paulo, 2000): vencedor ou vencido; sofrendo ou glorioso em cima da cruz; caçador ou protetor de hereges; animador da Cruzada ou contestador de qualquer tipo de violência; aliado dos poderosos ou defensor dos pobres; opressor ou libertador; militante, onipotente, fraco, ortodoxo, católico, protestante, espírita, evangélico, pentecostal, africano, budista, hinduísta. Imagens líquidas, contemporâneas, passageiras e aproximativas, condicionadas por tempo e espaço, por pontos de vista situados, provisórios, passageiros. Dentro desse acúmulo de imagens líquidas, proponho que, por alguns instantes, contemplemos três que têm um significado histórico relevante: o Jesus ressuscitado das primeiras gerações; o Jesus definido das igrejas estabelecidas e o Jesus ‘além de Jesus’ que nos desafia hoje.
Jesus ressuscitado.
Aproximadamente vinte anos após a morte de Jesus, o apóstolo Paulo escreve:
Sim, eu lhes transmito o recebi (acerca do destino de Jesus);
O Ungido morreu por nossas faltas
Conforme as Escrituras.
Foi sepultado
E, no terceiro dia, ressuscitou.
Conforme as Escrituras.
Ele foi visto por Cefas e depois pelos Doze
Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos reunidos.
Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos
E, para terminar, foi visto também por mim (1Cor 15, 3-8).
Nesse texto, Paulo afirma por três vezes consecutivas que Jesus ‘foi visto’ (em grego ‘ôfthè’). Cefas, os Doze, os quinhentos irmãos reunidos, Tiago, os apóstolos e por fim o próprio Paulo. Todos ‘viram’ Jesus. É o que Paulo escreve. Lembrando Wittgenstein, podemos nos colocar o seguinte questionamento: será que o depoimento de Paulo deve necessariamente ser interpretada como uma afirmação? Por que ele escreve que Jesus foi visto por ‘quinhentos irmãos reunidos’, o que é claramente um exagero? Por que ele insiste em escrever que Jesus foi visto pelos personagens mais representativos (Cefas, os Doze, Tiago, os apóstolos, ele mesmo)? Aqui não se trata de um desafio expresso na forma de uma afirmação? Algo como ‘você ainda não viu? Você é dos incrédulos?’.
Pois, como nos informam os primeiros textos, há entre os discípulos de Jesus duas reações diante da morte do líder e das possibilidades de sobrevivência do movimento, uma de ceticismo (ou ‘incredulidade’, como consta nos textos) e uma de coragem (ou ‘entusiasmo’, segundo os textos). Os incrédulos aparecem em diversos tópicos dos evangelhos e das cartas de Paulo. Mesmo Pedro, o mais próximo de Jesus entre os discípulos, fica decepcionado com o desenlace da vida de Jesus, como se lê no último capítulo do Evangelho de João. Ele volta à Galileia e diz, decepcionado: ‘eu vou pescar’. Seus companheiros, igualmente desiludidos, respondem: ‘nós vamos com você’ (Jo 21, 3. Esse último capítulo do evangelho de João é um discurso dirigido aos céticos). Há ainda, no mesmo Evangelho, o caso de Tomé, ‘o incrédulo’ (Jo 20, 24-29: ‘felizes os que não veem, mas confiam’ (aqui, a melhor tradução do particípio grego é ‘confiar’, não ‘crer’). No evangelho de Lucas encontramos a história dos discípulos de Emaús, que retornam, igualmente decepcionados, para sua aldeia natal (Lc 24, 13-53). Essa narração de Lucas, redigida por volta do ano 80, mostra como o ceticismo é endêmico ao primeiro movimento de Jesus. E no final do Evangelho de Lucas vem mais um discurso contra os céticos. No Evangelho de Tomé, cuja primeira versão provavelmente já circula nos anos 50, se encontram diversos aforismos em tom pessimista. Enfim, um sentimento difuso de pessimismo ronda o movimento. Como explicar Jesus derrotado e vergonhosamente humilhado na tortura da cruz? A crucifixão é a suprema vergonha. Ninguém olha para um crucificado, que fica abandonado a cães e aves de rapina.  Como explicar Gólgota, quando o evangelista Marcos escreve que o próprio Jesus chega a desesperar na hora da morte? (Mc 15, 34: o grito de Jesus parece um grito de desespero). Como suportar tamanha vergonha? Eis um sentimento negativo persistente que, como realça Horsley, poderia ter levado o movimento ao desaparecimento. Veja Horsley, R. A., ‘Jesus e a espiral da violência: resistência judaica popular na Palestina romana’ (Paulus, São Paulo, 2010). Também, do mesmo autor com Hanson, J.S., ‘Bandidos, Profetas e Messias: Movimentos populares no Tempo de Jesus’ (Paulus, São Paulo, 1995), onde se informa que diversos movimentos proféticos do tempo de Jesus desapareceram por falta de perspectiva.
Mas existe uma outra corrente, em vivo contraste com esses incrédulos. São discípulos que superam os sentimentos negativos causados pela morte de Jesus. Eles gesticulam, gritam, se exaltam, choram e dizem coisas que ninguém entende, como se verifica no capítulo 14 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Aí surpreendemos uma reunião particularmente agitada de discípulos ‘entusiastas’, onde se combate psicologicamente o sentimento difuso de pessimismo que ronda a geração que vivenciou a horripilante morte de Jesus. Paulo interpreta esse entusiasmo quando afirma: a morte não tem a última palavra. Deixar-se levar pelo abatimento é precipitar o desaparecimento do movimento. Está na hora de demonstrar coragem. Essa leitura combina com o que lemos nos versículos 12-14 do mesmo capítulo 15 da Carta aos Coríntios:
Quando gritamos que o Ungido se levantou da morte,
como alguns de vocês dizem que não existe ressurreição?
Aqui os entusiastas gritam. Paulo usa o verbo grego ‘kèrussô’ (gritar, proclamar em voz alta). Esses gritos significam o rechaço do argumento ‘não existe ressurreição’; ‘ninguém nunca viu alguém se levantar da morte’. Não se trata de raciocinar ou argumentar, trata-se de animar os colegas e não ceder a sentimentos de derrota. A morte não pode ter, de maneira nenhuma, a última palavra. A memória de um Jesus vivo tem de ser preservada a todo custo, pois ela é fundamental para a sobrevivência do movimento.
Nós sabemos que o Ungido, já que ele ressuscitou, não morre mais.
A morte não exerce mais seu poder soberano sobre ele’ (Rm 6, 9).
O Sopro, que é vida,
em Jesus o Ungido nos libertou
do pecado e da morte (Rm 8, 2).
Eis o imperativo categórico que está na origem do movimento de Jesus: crer na ressurreição significa não desfalecer diante dos obstáculos, das dificuldades, das ameaças de morte, é prosseguir no caminho de Jesus.
Os profetas de Israel sempre interpretaram a ressurreição nesse sentido exortativo, imperativo até. Ezequiel (entre 585 e 568 aC) vê os ossos ressequidos de guerreiros vencidos se transformar em exército temível:
Filhos de Adão, escutem:
eu abro seus sepulcros,
eu os faço sair de seus sepulcros,
vocês, meu povo.
Eu lhes darei meu sopro.
Eu, Ihwh, faço o que falo (Ez. 37, 1-14).
O profeta Daniel tem a mesma uma visão: os macabeus que morrem na resistência contra o rei sírio Antíoco IV, não descem ao sheol, o ‘país da poeira’, mas brilham como estrelas ‘no esplendor do firmamento’:
Surge então o grande príncipe Miguel, aquele que está acima dos filhos de seu povo. É um período de angústia como nunca se viu. Mas seu povo e todos que estão inscritos no livro são poupados. Entre os que dormem no país da poeira muitos se levantam, uns para a vida eterna e outros para a vergonha, para o horror eterno. Os sábios brilham no esplendor do firmamento. Os que trouxeram muitos para a justiça cintilam como estrelas para sempre (Daniel, 12, 1-3).
O profeta Isaías diz o mesmo:
Os mortos viverão de novo
Seus corpos se levantarão
Acordem! Gritem de alegria!
Vocês que jazem na cinza! (Is 26, 18-19)
Podemos concluir: o discurso da ressurreição não é de ordem descritiva nem definitória, mas exortativa e até imperativa. Serve para animar os companheiros a lutar e aguentar as maiores oposições, atravessar as maiores desilusões. Para falar como Bauman: é uma ressurreição ‘líquida’, expressão de um momento particularmente difícil do movimento de Jesus, em que era preciso alimentar uma confiança em Deus que arrastasse as pessoas para além do abatimento, do medo e do sentimento de derrota. O corpo abjeto do crucificado transfigura-se no corpo luminoso do ressuscitado.
Jesus definido.
Os tempos passam e, no ano 325, os bispos se reúnem no primeiro Concílio Ecumênico da história do cristianismo. São convidados pelo próprio Imperador, que os acolhe na sua Residência de Verão em Niceia, perto de Constantinopla. Muito lhes impressiona a recepção por parte do Imperador e de dignitários de sua Corte, pois são homens do povo, agora tratados como se fossem senadores do Império, com direito a honras militares e protoclares. Podemos presumir que entre eles haja analfabetos, pois a população em geral, naqueles tempos, é iletrada. É claro que eles se fazem acompanhar de secretários capazes de lidar com letras, ler as Escrituras Sagradas, falar a linguagem da Corte e redigir textos no devido estilo da época. Muitos deles provenientes da associação de clérigos recentemente formada nos recintos da novíssima e grandiosa Basílica Hagia Sofia em Constantinopla (desde 313).
São esses bispos e seus seletos secretários que, em Niceia, prendem Jesus em suas definições. No quadro ‘Coroação de Espinhos’, do pintor holandês Jerônimo Bosch (o original fica na National Gallery em Londres. Existem duas cópias, uma em Antuérpia e outra no Museu do Prado em Madrid), a rabino segura com sua mão direita as mãos de Jesus, enquanto sua mão esquerda segura um rolo de Escrituras Sagradas. Ele encara Jesus com arrogância, como quem diz: ‘o que você tem a dizer agora? Está em nossas mãos’. O pintor consegue expressar, melhor que qualquer palavra, o que aconteceu em Niceia: Jesus preso nas mãos de sacerdotes.  São eles que o definirão por longos séculos, por meio de seus catecismos copiados e recopiados, mais tarde impressos e reimpressos, com perguntas e respostas a serem decoradas por crianças e jovens nas escolas e centros paroquiais.
Niceia fala em palavras definitórias e grandiloquentes: ‘Deus todo-poderoso, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro’. Mais tarde virão os superlativos ‘Santíssima Trindade’, ‘Maria Santíssima’ e ‘Santíssimo Sacramento’. A Igreja se enche de Santidades e Eminências, Excelências e Dignidades. Adota-se o estilo pomposo, triunfal, superlativo e arrogante da linguagem oficial romana.
E não se trata só de linguagem, mas da totalidade de um novo modo de inserção na sociedade e na vida das pessoas. Na arquitetura e na liturgia, nas vestes clericais e na formulação dos textos, na cotidianidade das paróquias, na iconografia e nas artes, na formação das lideranças, no ensino da moral, no acompanhamento diário da vida das pessoas e até na marcação de tempos e espaços transparece um Jesus que está nas mãos da igreja: ‘nós o definimos, nós falamos em seu nome, ditamos o que ele tem a dizer, pois ele é nosso’.
Eis o Jesus de Niceia, que se apresenta ‘sólido’, mas na realidade é ‘líquido’, pois expressa a histórica (e, portanto, passageira) tomada de poder na Igreja por parte de uma corporação. A solidez de Niceia é uma ilusão. Na realidade, a definição de Jesus, tal qual consta no Credo, é limitada por um tempo (século IV dC) e um espaço (Niceia, Constantinopla, a Corte). Uma definição líquida, como todas as definições criadas pelo ser humano. Por mais que o patriarca alexandrino Atanásio se empenhe para que todas as igrejas locais se tornem ortodoxas e que as autoridades imperiais apoiem essa nova ortodoxia, a fragilidade da proposta se expressa na violência usada contra quem porventura ouse propor outro modo de se falar em Jesus fora da ‘ortodoxia’. Ele é logo qualificado de herege (lembro aqui que o Concílio de Niceia está centrado na luta contra o presbítero alexandrino Ário, o herege), impedido de usar as plataformas oficiais da Igreja e, com o tempo, exposto à fogueira. Mesmo assim, a série de heresias que se sucedem ao longo dos tempos é impressionante (Le Goff, J. [org.], Hérésies et Sociétés, Mouton & Co, Paris, 1968) e revela que o discurso de Nicéia não suporta diálogo, mas exige obediência e repetição mecânica das mesmas palavras, ao longo dos tempos. Nicéia não se direciona à inteligência das pessoas. Não explica, por exemplo, por que Jesus foi crucificado. O texto diz que ele morreu ‘por nossos pecados’ e ‘para nos salvar’, mas isso não explica por que motivos as autoridades do tempo (romanas e judaicas) o condenaram à morte e o torturaram de forma tão horrível.
Foi com o Credo nos lábios que cristãos europeus, na época dos colonialismos, praticaram os mais horríveis crimes contra a humanidade de que se tem memória. Eliminaram populações inteiras e escravizaram imensos contingentes humanos, sempre justificando suas ações ‘em nome da verdadeira fé’. Durante esses séculos todos, as mais altas autoridades eclesiásticas, que se mostravam tão ciosas em preservar e defender o dogma, não disseram nada a respeito da eliminação de povos e escravização de outros tantos. Só quando já pertencia ao passado, em 1965, a escravidão foi condenada oficialmente pela Igreja. No parágrafo 27 do documento ‘Gaudium et Spes’ do Concílio Vaticano II, em meio à longa lista de ‘coisas infames’ a serem abandonadas, como homicídio, suicídio, aborto, eutanásia, prisões arbitrárias, deportações, prostituição, etc., a escravidão é mencionada, como de passagem, sem destaque.
Jesus além de Jesus.
No início destas páginas evoquei o caso de dois artistas que manifestam opiniões contrárias sobre Jesus. Assim voltamos à ‘liquidez’, à subjetividade líquida. Rublev não consegue pintar um Jesus Último Juiz, enquanto Michelangelo nisso não vê nada demais. O último vive imerso numa tradição de séculos acerca de um Jesus que ‘virá do céu para julgar vivos e mortos’, como reza o catecismo, enquanto o primeiro cava mais fundo e alcança o homem de Nazaré, que perdoa ‘setenta vezes sete vezes’, convida cobradores de imposto a tomar a refeição em sua casa, não condena a mulher adúltera, deixa as ervas daninhas crescer com o bom trigo, trata todo mundo de irmão e irmã, conversa com a mulher samaritana, considera Deus seu pai, reza pelos inimigos e não condena ninguém.
Pode-se dizer que Rublev enxerga Jesus (de Nazaré) além de Jesus (Cristo), ou seja, Jesus da primeira tradição além de Jesus da tradição dominante, enquanto Michelangelo fica enredado nessa última. Acontece que, depois de tantos séculos de tradição dominante a respeito de Jesus, enxergar o Jesus da primeira tradição costuma provocar, num primeiro momento, um sentimento de desencanto. Parece que Jesus sai diminuído, rebaixado. Ele perde a auréola, o trono, o cetro, as vestes sacerdotais, a glória, louvores e adorações, genuflexões e reverências.  Mas essa é uma primeira impressão. Jesus de Nazaré tem contornos bem mais definidos que Jesus Cristo, que para a maioria das pessoas não significa nada além de uma vaga evocação de ternura, paz e amor, nada além de uma herança cultural. Jesus de Nazaré, pelo contrário, significa compartilhar a mesa com todos e todas; trabalhar a favor dos desfavorecidos; não condenar ninguém; enfrentar os poderosos deste mundo; ver em Deus um pai etc. Jesus de Nazaré se posiciona diante da sociedade, Jesus Cristo nem sempre. Daí os momentos de controvérsia com sacerdotes, letrados e fariseus, durante as breves permanências de Jesus galileu em Jerusalém, como se verifica nos primeiros onze capítulos do Evangelho de João. Um abismo intransponível se abre entre seu modo de ser e o da sociedade dominante.
Repito: a passagem de Jesus Cristo a Jesus de Nazaré não é coisa fácil. Além das dificuldades acima apontadas, há uma questão técnica, que analisei em meu livro ‘Em busca de Jesus de Nazaré’ (Paulus, São Paulo, 2016): só conhecemos Jesus de Nazaré de forma indireta, alterada. Não há como chegar diretamente a ele, não temos condições de falar algo a seu respeito de forma absoluta e definitiva. O processo redacional traz inevitavelmente consigo uma alteração, que não deve ser visto necessariamente como adulteração. Nosso conhecimento de Jesus de Nazaré passa pelos olhares de Paulo, Hebreus, Marcos, Lucas, Mateus, João, e em seguida por uma infinidade de olhares ao longo da história. Seguir esses meandros não é coisa fácil, mas necessária para quem se propor a orientar comunidades cristãs nos dias de hoje.
Mas existe um caminho mais curto, menos complicado. É o caminho do povo fiel, que foi trilhado por Rublev e tantos outros, místicos ou não, que por intuição sabiam que os sistemas eclesiais não conseguem prender Jesus por inteiro e que ele sempre escapa, como escapou, sem dizer uma única palavra, das garras do Cardeal Grão Inquisidor no romance ‘Os Irmãos Karamazov’ de Dostoievski. O Jesus que escapa é capaz de fascinar as pessoas de hoje, como ele fascinou os aldeões da Galileia. Em seu livro ‘Resistência e Submissão’ (Editora Sinodal, São Leopoldo, 2014), Dietrich Bonhoeffer escreve: ‘O dia virá em que a Palavra de Deus será falada de tal modo que as pessoas se sentirão interpeladas. Será uma nova linguagem, provavelmente não religiosa, mas libertadora e redentora, como a linguagem de Jesus. As pessoas ficarão admiradas e seduzidas pela força dessa linguagem. Então o mundo se renovará’.
Postado por Eduardo Hoornaert

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Paradoxos da candidatura Lula (I), por Aldo Fornazieri

Paradoxos da candidatura Lula (I)

por Aldo Fornazieri
No dia seguinte à sua condenação, em pronunciamento à imprensa e a militantes, Lula fez um pedido formal ao PT, reivindicando o direito de ser candidato à presidente da República em 2018. Esta petição o colocou no centro de vários paradoxos, com destaque para dois. O primeiro é de ordem jurídico-política e o segundo é de ordem política. Examine-se aqui o primeiro. O paradoxo de ordem jurídico-política se constitui pelo fato de que Lula expressou de forma manifesta a vontade de ser candidato, o que o PT não lhe negará, lidera as pesquisas de intenção de voto e, ao mesmo tempo, corre o risco e sofre uma ameaça de interdição judicial de sua candidatura. Ou seja: pela manifestação de vontades e de intenções de Lula e do PT estamos diante de uma candidatura certa, mas, potencialmente, os desdobramentos judiciais a colocam no âmbito de uma incerteza.
Hoje poucos dividam que o ato final do golpe, ao menos para uma parcela dos golpistas, consistia em interditar a candidatura de Lula. Mas o bloco que apoiou a deposição de Dilma cindiu-se e muitos dos que estavam nele manifestam a convicção de que a condenação de Lula é um ato puramente político e que o juiz Moro eximiu-se de apresentar provas na condenação. Certamente, os historiadores do futuro, distanciados do calor dos acontecimentos, terão muito a pesquisar e a dizer sobre esta crise brasileira. Mas, dada a velocidade dos acontecimentos, e a elucidação, o deslindamento acelerado de que vêm carregados, permitiram que o tribunal da história pronunciasse já, agora, duas sentenças: 1) foi golpe; 2) os procuradores da Lava Jato e o juiz Moro se meteram numa empreitada persecutória e parcial contra Lula.
E na medida em que muitos adversários e inimigos de Lula passam a admitir que ele está sendo condenado sem provas, torna-se uma tarefa difícil entender as atitudes dos procuradores e do juiz Moro, pois, se elas têm uma investidura política, é forçoso reconhecer que elas (as atitudes) vão para além da política e resvalam para o terreno pessoal, da personalidade e do caráter, particularmente do procurador Deltan Dallagnol e do juiz Moro.
Várias hipóteses podem ser cogitadas para tentar explicá-los. Reportagens de diversas mídias sugerem que eles seriam movidos pela pureza de um moralismo. Mas outras matérias indicam que este moralismo é oco, farisaico. Uma das hipóteses sugere que quando no auge de sua popularidade, no momento das grandes manifestações pelo impeachment, eles se atribuíram uma grandeza que não têm e nunca teriam, imantando-se com um verniz dourado do heroismo que o tempo se encarregaria de mofar. Não é um atributo ou prerrogativa de procuradores e juízes almejar a grandeza e o heroísmo. A supervalorização de si mesmos não tinha uma correspondência nas capacidades e nos saberes jurídicos que ambos possuíam: nenhum dos dois é autor de uma teoria inovadora ou de grande compêndio de conhecimento jurídico, como foi demonstrado por juristas e especialistas que analisaram suas atitudes, suas decisões e sua formação. Quando uma pessoa de mediano conhecimento quer se mostrar muito superior do que realmente é, resvala, inapelavelmente, para a vaidade e para a arrogância. Dallagnol é um vaidoso e arrogante explícito, que busca vorazmente o exibicionismo. O juiz Moro é um vaidoso e arrogante contido, que se compraz consigo mesmo e com a ideia de grandeza que faz de si.
Estes descaminhos pessoais, provocaram decisões desastradas da dupla. O exibicionismo de Dallagnol chegou ao ápice no momento do PowerPoint e, para mostrar uma ilustração que não tem, fundamentou a denúncia contra Lula, não em fatos, mas em duas teorias bastante estranhas ao direito, tão bem desmistificadas pelo jurista Lenio Luis Streck, que as classificou de exóticas. Trata-se do "probabilismo, na vertente do bayesianismo, e o explanacionismo". Ou seja, trata-se do exibicionismo elevado à condição do ridículo.
O juiz Moro, na sua imantação horóico-santificada, condenou Lula, não com base na denúncia, pois esta era vazia, mas com base na vontade de condenar. Vários juristas mostraram que não há nenhuma ligação entre a sentença condenatória e a denúncia, o que configura uma condenação sem provas. A hipótese mais provável é que Moro caiu numa armadilha da defesa de Lula. Esta partiu do pressuposto de que o juiz o condenaria. Assim, adotou como estratégia de defesa a confrontação com o próprio juiz, em atos deliberados de provocação e escaramuças públicas.
Uma condenação movida a ódio
Moro cometeu o erro mais elementar que nenhum juiz e nenhum líder podem cometer. Agiu, não com a lei, mas movido pela raiva, pela ideia de se vingar das afrontas públicas promovidas pela defesa e pelo ódio a Lula. As ações motivadas pela raiva revelam frustração, uma atitude da impotência infantil, erro que jamais é cometido por aqueles que exercem realmente o poder. As reações emocionais, nos jogos estratégicos, nos jogos de poder - era coisa já sabida pelos líderes prudentes do mundo antigo - são contraproducentes e revelam o desequilíbrio dos seus agentes.
Na imagem grandiosa que construiu de si mesmo e no narcisismo de sua autocontemplação, Moro quis mostrar-se grande entre aqueles que ele considera grandes: Aécio Neves, Michel Temer, João Doria etc. Compareceu em eventos, sorridente e feliz, a abraçar aquele, a apertar a mão deste, exibindo-se com os novos donos do poder, todos mal-cheirosos, o que denota a imprudência desbragada do juiz. Comparando-o ao juiz italiano anti-máfia, Paolo Borsellino, o jurista Walter Maierovitch afirma que este "jamais deu ouvidos a adversários e detratores. Nem abraçou políticos poderosos ou decadentes. Ou seja, tipos como Aécios da vida".   
Movido pelo ódio e pela vontade de destruir, de anular Lula, Moro o comparou descabidamente com Cunha. As justificativas de suas sentenças tornaram-se um emaranhado de confusões, que revelam o monumental despreparo para comandar o julgamento de um caso tão especial e delicado como é o da Lava Jato. Moro e Dallagnol, cada um a seu modo, também deram sua contribuição para o agravamento da crise das nossas  instituições, recorrentemente colapsadas por aqueles que as deveriam defender. Deputados e senadores destruíram o Congresso Nacional. Temer destruiu a instituição da Presidência da República e o Brasil. Juízes e procuradores, incluindo magistrados do STF, destruíram o Judiciário e o Ministério Público.
É difícil prever o que fará o Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, a quem caberá julgar Lula em segunda instância. Mas duas coisas parecem certas: 1) nesta instância não é prudente que a defesa de Lula utilize a tática da confrontação e da provocação. Mesmo que não confie, o recomendável será dizer que confia na Justiça; 2) A candidatura Lula não será salva só nos tribunais.
Se Lula e o PT quiserem viabilizá-la, terão que salvá-la nas ruas e em movimentos da sociedade civil. Terão que levantar o povo para salvá-la. Isto porque o Brasil vive um daqueles momentos em que os agentes públicos com poder de decisão se insularam, pairam acima da sociedade, das leis e da Constituição. Decidem a partir de seus interesses e de suas vontades; de suas raivas e de seus ódios, de suas vaidades e de suas arrogâncias, dos seus orgulhos e de suas presunções. Somente o povo, comandado por líderes prudentes, poderá retirar o Brasil desta loucura destrutiva em que o país está mergulhado para dar-lhe algum sentido de futuro promissor e esperançoso. 
Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política

Diáconos permanentes, sua missão

Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta, RS
Lembrei na semana anterior que o diácono permanente tem seu lugar único na Igreja, por ser um sacramento de Cristo Servo e manifestação da Igreja servidora. Compreendemos, a partir disso, sua missão, como bem o expressou nosso Papa Francisco: “O diácono é o guarda do serviço na Igreja. […] Vós sois os guardas do serviço na Igreja: o serviço à Palavra, o serviço no Altar, o serviço aos Pobres. E a vossa missão, a missão do diácono, e o seu contributo consistem nisto: em recordar a todos nós que a fé, nas suas diversas expressões — a liturgia comunitária, a oração pessoal, as diversas formas de caridade — e nos seus vários estados de vida — laical, clerical, familiar — possui uma dimensão essencial de serviço. O serviço a Deus e aos irmãos” (Papa Francisco, 25 de março de 2017).
Historicamente, as funções dos diáconos variaram. Sempre, porém, elas são marcadas pelo “caráter de sacramento da caridade de Cristo preferencialmente aos pobres e excluídos” (Diretrizes para o diaconado permanente da Igreja no Brasil, n. 48). Não sãoos diáconos os únicos a exercerem sua missão marcada pelo serviço, pois todos os ministérios na Igreja devem trazer esta identidade. Assim motivados, serão apóstolos em suas famílias, em seus trabalhos, nas comunidades e na missão. Especificamente, “fortalecidos pela graça sacramental, os diáconos servem ao povo de Deus pela diaconia da liturgia, da Palavra e da caridade, em comunhão com o bispo e o seu presbitério” (LG 29). Sua primeira missão é a caridade: “Ele é apóstolo da caridade com os pobres, envolvido com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela miséria e pelas provações da vida” (Diretrizes,n. 58). Na diaconia da Palavra, antes de tudo é ser um humilde acolhedor, deixando-se continuamente guiar por ela. É ser anunciador na presidência da celebração da Palavra, na homilia da celebração eucarística, nos sacramentos do batismo e matrimônio, nas celebrações de exéquias, nos grupos de reflexão, nos cursos de formação, retiros, nas atividades missionárias… Exercem, também, uma missão própria na celebração eucarística. Enfim, sua missão está profundamente ligada à evangelização, em comunhão com os padres das paróquias. Hoje, quando surgem novos desafios para a evangelização, abre-se a possibilidade da atuação dos diáconos em lugares e setores específicos, como a cultura, a comunicação, a saúde ou a justiça. Ou, então, diáconos com missão em colégios, universidades, condomínios, zonais rurais afastadas, etc.
Ressaltamos que os diáconos não são ordenados para se colocarem acima dos leigos ou para lhes tirar seu lugar. Não desejamos esvaziar a missão do leigo, mas somar forças, na comunhão diocesana a partir do Plano de Ação Evangelizadora. Partilham, na corresponsabilidade eclesial, a única missão evangelizadora, com os padres, os religiosos e os leigos. Importante que atuem sempre em comunhão com o bispo e o presbitério, animados pelo ardor missionário, comprometidos com uma “Igreja em saída”. Os ministérios leigos e os diáconos “são duas vocações diferentes, ainda que complementares, dentro da ministerialidade da Igreja” (Diretrizes, n. 52). Sem dúvidas, os diáconos permanentes são uma esperança para nossa Igreja diocesana. Oremos ao Senhor da Messe que nos envie estes operários de que tanto necessitamos.

"A esquerda está viciada em seu próprio conforto"

Manifestação em Santana do Livramento durante 'greve geral' 'Estamos vendo a esquerda fazer uso do termo 'greve geral' de forma irresponsável'
Professora do departamento de Estudos Políticos da UniRio, Clarisse Gurgel faz a chamada "crítica pela esquerda" dos partidos e dos movimentos organizados hoje no Brasil. Para Gurgel, formada em Artes Cênicas e doutora em Ciência Política pela UERJ, essas organizações centram suas forças em eventos performáticos, como passeatas, manifestações e atos, deixando em segundo plano o trabalho de formação política em sua base. 
Ao tomar de empréstimo termos da psicanálise e do teatro, ela identifica também uma grande dificuldade desses setores em aceitar críticas. "A esquerda precisa ser mais humilde e acolher a diversidade de métodos e de formas de pensar. Hoje, ela está viciada no próprio conforto e qualquer sujeito que a critique é expurgado". 
Na entrevista a seguir, ela analisa o modus operandi da esquerda hoje, o legado de junho de 2013 e a greve geral de 28 de abril. 
CartaCapital: No artigo "Ação performática: sintoma de uma crise política", você apresenta a ideia que a ação performática está sendo usada como tática preferencial da esquerda hoje no Brasil. O que é ação performática? Como ela se manifesta nos dias de hoje?Clarisse Gurgel: O termo vem do teatro e da ideia de performance teatral. A performance tem esse caráter de simular algo extraordinário, fora do cotidiano. É uma ação efêmera, pouco ensaiada, que ocupa o espaço público também de uma forma pouco usual ou regular.
A ideia de me apropriar do teatro para descrever como a esquerda atua era uma tentativa de me apropriar do tempo e do espaço dessa forma especial de teatralização, dessa forma específica de fazer política hoje.
CC: Que forma de fazer política é essa?CG: Em resumo, é você simular que está sendo espontâneo e atuar de forma efêmera, ou seja, sem continuidade. É priorizar eventos, como atos, marchas, passeatas, abraços a monumentos etc. O centro no evento é tão grande que a esquerda cai na própria armadilha de, por exemplo, ocupar um espaço e depois não saber sair dele. E, ao sair, acabar derrotada ou desgastada.
A ação da esquerda hoje não tem muitos desdobramentos, é concentrada no tempo presente. O curioso disso é que essa tentativa de simular uma espontaneidade é, na verdade, uma tentativa de fugir de um estigma que associa a esquerda ao autoritarismo, ao stalinismo, ao burocratismo. Tentando fugir desse estigma, o diagnóstico que eu faço é que a esquerda acaba por reforçá-lo.
CC: Como assim?CG: Essa tentativa de fugir do estigma do burocratismo faz com que a esquerda priorize a política como evento. Só que, assim, ela mesma se burocratiza mais, porque deixa de dedicar o seu tempo a um trabalho continuado de formação política, de propaganda e de agitação e passa a se concentrar única e exclusivamente a organizar o evento, descolando-se ainda mais de suas bases sociais.
Esse estigma vem, em especial, do stalinismo. O stalinismo é um fenômeno que merece mais atenção, porque, muitas vezes, ele é resumido a um processo de burocratização. Mas a leitura que se fazia do stalinismo como um fenômeno de excesso de burocracia e de uma rigidez muito grande por parte do partido bolchevique gerou uma reação que eu identificaria em dois fenômenos.
CC: Quais?CG: Um é a rejeição à própria forma de organização em partido. A outra é uma preponderância das bandeiras identitárias. Acho que a gente vive esse reflexo até hoje: a rejeição ao partido e a preponderância das pautas identitárias como contraponto a categorias mais universalizantes, como a própria categoria de classe.
Então, em face disso, o que acontece é um movimento, em especial, que tem como vanguarda o movimento trotskista, que vai vir na contramão desse diagnóstico da burocratização. O trotskismo tem como bandeira o combate à burocracia do partido e em especial o burocracismo. A burocracia é um mecanismo de segurança de qualquer organização coletiva, mas o burocratismo, a exacerbação da burocracia passa a ser alvo do trotiskismo.
Em especial, nas décadas de 80 e 90 para cá, o trotskismo passa a ser a corrente hegemônica no campo da esquerda no mundo, em especial, naqueles partidos que tem referencial no bolchevismo. Esse trotskismo vem acompanhado de um receio, um certo constrangimento, e eu aponto até para um aspecto meio patológico da rejeição a sua própria forma, a forma partido. Num sujeito coletivo, a rejeição a sua própria forma gera consequências graves.
CC: Quais são elas?CG: A rejeição à sua própria forma, que aponto nas legendas revolucionárias ou contra-hegemônicas, leva o partido a atuar de uma forma que parece lembrar esses fenômenos de compulsão, identificados pela psicanálise, de infligir em si mesmo certos ferimentos. Isso marca uma presença, você se sente existindo e, ao mesmo tempo, produz o efeito de chamar atenção para si. Mas é o que se chama de Passagem ao Ato.
Uma repetição de comportamentos que revela um desencontro patológico do sujeito com seu próprio corpo, sem um exercício de elaboração, por uma suposta perda da influência de um Grande Outro. Algo que nos faz lembrar a bulimia, a anorexia e tem seu extremo no suicídio.
Mas há outra forma de compulsão que se chama na teoria psicanalista de “acting out". O acting out é uma forma de repetição em que o sujeito finge agir espontaneamente, mas está repetindo algo que ele já fez, na tentativa de que aquele que lhe negou a escuta, o ouça dessa vez.
E esse que lhe nega a escuta eu identifico como a grande mídia, que não deixa de ser um grande outro. Por isto, a ação perfomática estaria mais próxima de ser um Acting Out.
CC: Pode dar um exemplo?CG: Há um exemplo muito interessante: um ato em apoio aos iraquianos na época da ocupação americana no país, em 2003. Na ocasião, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush foi até o Iraque e um jornalista arremessou um sapato em sua direção.
No Rio de Janeiro, foi organizado um ato em apoio aos iraquianos em frente à embaixada americana. E, para o ato, se organizou uma atividade em que os militantes jogariam sapatos na embaixada. É interessante porque era para mostrar que aquilo era espontâneo, fruto do acirramento dos ânimos dos manifestantes, mas os próprios manifestantes levaram um par extra de sapatos para jogar - e aqueles que estavam efetivamente com os ânimos acirrados e pegaram carona naquele preparativo, quiseram jogar seus próprios sapatos nas vidraças da embaixada.
Nesse momento, os organizadores disseram no microfone para os militantes não jogarem na fachada, mas do lado, porque tinha sido combinado com os policiais que não haveria danos ao patrimônio.
Esse é uma ilustração perfeita do que é a tentativa de entrar em uma pauta midiática sem criar danos reais, na perspectiva de ser bem narrado - e descolado completamente dos anseios efetivos daqueles que estavam dispostos a demonstrar apoio aos iraquianos.
É um caso exemplar de “acting out”, porque é um sujeito repetindo um ato, na tentativa de ser ouvido.
O problema é que, quando você procura se desimplicar do próprio ato, na expectativa que o outro lhe dê sentido, você fica muito refém do outro. E a grande mídia não é companheira na hora de narrar os atos da esquerda, em especial da esquerda contra-hegemônica.
CC: É possível identificar isso em 2013, quando houve grandes atos com a presença da mídiaCG: Sem dúvida. Acho que 2013 é o ovo da serpente de 2017. O que vivemos em 2013 foi uma experiência estritamente de agitação, que é você ir para a rua e denunciar. Quando você resume a prática política à mera agitação, sem um conteúdo que signifique propagar e enraizar esse discurso no imaginário, o que acontece é que aqueles que estão mais organizados e tem mais estrutura, pegam carona e imprimem à agitação o sentido que querem.
CC: Como isso aconteceu em 2013?CG: O ato começou com um movimento que tinha uma bandeira clara, contra o aumento da tarifa de ônibus. Era um movimento de uma vanguarda de jovens, que, mesmo rejeitando os partidos, era satélite deles, e que se reivindicavam autônomos e horizontais.
Aquele ano começa com a expressão disso e com os partidos pegando carona ali, tentando levar para o movimento estudantil e a classe trabalhadora as repercussões da organização desses movimentos sem estrutura. Com a aproximação dos partidos, começam as tensões, que são herdeiras disso de que ainda temos dívida, em relação a elaborar a respeito, que é essa herança do stalinismo. Então, os conflitos internos à esquerda começam a surgir, entre organizações sem estrutura e os partidos da vanguarda.
Paralelo a isso, os setores conservadores começam também a ocupar as ruas e pegar carona também no movimento, entendendo, e a direita cada vez mais entende, que ela precisa recuperar - curiosamente - o repertório da esquerda.
Ela começa a recuperar, não é nem fazer uso, é recuperar o repertório da esquerda. A palavra de ordem “vá para a rua” quem propaga é a direita e, sem dúvida, como fruto de uma ausência de quadros na direita. Setores conservadores vão para as ruas na perspectiva de deslocar o espaço da política para a rua, para fazer dali um terreno fértil em que surja um quadro (que até agora efetivamente não surgiu).
De lá para cá, o que temos é um processo de acirramento efetivo dos ânimos, quase como um clima de pânico generalizado e fantasioso por parte da direita e classe média que começa a perder espaço em face da crise econômica. Esse atores ocupam as ruas e vão dando volume para qualquer palavra de ordem ou “significante mestre”, para usar um termo em voga.
CC: O que é isso?CG: Significante mestre é qualquer som que tenha o efeito de uma mãe dizer a uma criança: “é porque é”. Isso é significante mestre. A criança pergunta o porquê e você responde “porque sim”. O significante mestre tem esse poder. Em meio a uma multidão volumosa, aqueles que têm recursos, como a FIESP, por exemplo, têm plenas condições de colar ali o significante mestre que quiser. Por exemplo, bordões do antipetismo ou dizer que o Brasil vai virar Cuba.
CC: E com isso a luta pela tarifa de ônibus fica para trás.CG: Sim. Hoje vivemos o reflexo de 2013: uma conjuntura em que tem uma massa de trabalhadores que não se espelham em nada e uma esquerda perdeu um aspecto que era uma marca dela, que é a disciplina e a organização. Nesse contexto, qual é o melhor quadro político hoje?
É essa figura que não espelha ninguém e se revela um indisciplinado por excelência. Ou seja, aquele que não está vinculado a um partido e que age por si só. Por isso, figuras como o prefeito de São Paulo, João Doria, colam muito bem hoje. Ele não tem lealdade alguma a qualquer estrutura e tem uma coisa que, no contexto de crise econômica, é aquilo que podemos dizer que é a esperança de um povo que anseia pelo nada: o sucesso.
CC: Dentro desse contexto, como você analisa os movimentos de “greve geral” realizados em 28 de abril?CG: Usa-se o termo "greve geral" para anunciar algo que, pelos preparativos e ensaios de paralisação, cresce no espaço e no tempo, ganhando aderência de diversas categorias e perspectiva de duração para além de um dia. O que é geral requer subsolo. E sendo uma greve desta natureza, cujo caráter político prevalece, a questão sobre a direção que assume um movimento paredista é fundamental para medir sua real generalidade, em termos de adesão massiva a um conteúdo comum. O êxito do dia 28 se explica por diversas razões que extrapolam a real capacidade hoje da esquerda organizar e mobilizar.
Quando você ameaça o capital, alardeando uma greve geral sem estas condições, provavelmente estaremos diante de um uso performático de um termo, e de um termo importante para a classe trabalhadora, que não pode ser usado de forma irresponsável.

É interessante, no dia da greve, o Michel Temer lançou o “cartão reforma”, um cartão para ajudar em obras. E, sem dúvida, ele tentou disputar o significado de “reforma”. No dia do ato contra as reformas trabalhista e previdenciária, ele lança o cartão reforma. Esse uso pouco honesto de um significante que é de peso, lembra um pouco o uso descuidado, por parte da esquerda, do termo greve e, em especial, greve geral.
Nós estamos vendo, sucessivas vezes, o uso do termo greve sendo feito pela esquerda de forma irresponsável. Quando, por exemplo, setores da educação aderem a uma greve já com prazo para terminar, que é a data de votação do orçamento do governo federal no Congresso. Imagine o que é começar uma greve já com prazo de validade: isso esvazia de sentido a palavra greve.
Por isso digo que não é só a ação performática, a própria narrativa é também performática. Então, fazer uma greve com prazo de validade chega a ser cômico, porque o patronato apenas espera.
Eu não posso dizer também que, na conjuntura de desorganização que estamos, que a paralisação do dia 28 de abril não foi um sucesso. Para a conjuntura foi. E também não vou fechar os olhos para um dado novo, que é a adesão de setores da sociedade civil não integrados à vanguarda ou habituados à militância e a atuação coletiva, como, por exemplo, os professores da rede privada.
Mas eu queria registrar um ponto sintomático de tudo isso. Seja a adesão de setores novos ou a paralisação de setores de vanguarda, nenhuma das ações conta com organicidade necessária para os governantes sentirem que a gente não só resiste.
Existe uma diferença entre resistir e se insurgir. E quando a esquerda rejeita a forma partido, você tende a duas ações: uma delas é a de resistência, ou seja, imprimir obstáculos em face de uma certa política; e o outro é produzir modos de vida paralelos ao que existe hegemonicamente.
Essas duas formas de ação - produzir modos de vida paralelos e resistir produzindo obstáculos - não incidem diretamente na estrutura de poder, que permanece existindo. Ela pode não avançar em face desses obstáculos mas, fora isso, ela fica intacta.
E perde-se de perspectiva a ação insurgente, que é colocar em ameaça a própria estrutura de poder. Isso é outro aspecto que se perdeu em face da crítica à forma partido. 
CC: Um movimento essencialmente performático é capaz de fazer oposição real a um governo como o de Michel Temer?CG: Eu não acredito. Eu não tenho dúvidas de que 2013 foi o ovo da serpente chamada Michel Temer, que nem se chama Temer, mas, sim, PSDB. Mas eu não digo que as manifestações da direita foram as responsáveis por derrubar a Dilma.
Na verdade, a estratégia de derrubar a Dilma impulsionou os conservadores a ficarem nas ruas. Essa é a diferença de você entender um movimento organizado cuja ação na rua é fruto do acirramento. Quando a esquerda parte da ação da rua, ela está invertendo o processo. Ir para a rua é o ápice.
A esquerda precisa recuperar a ação que fazia nos locais de trabalho, nas associações de moradores, nos núcleos partidários, nos movimentos sociais. 
Isso se perdeu e, atualmente, o sujeito que faz esse trabalho são as igrejas, oferecendo serviços de assistência social e fazendo até o papel de mediadora de conflitos, entre traficantes e moradores da favela. É claro que igreja e tráfico não deixam de ser braços do capital. Isto facilita muito o trabalho destas instituições. Mas, tal como a igreja, a esquerda precisa encontrar meios de voltar a estar presente cotidianamente na vida dos trabalhadores. De início, fazendo as vezes da face propositalmente ausente do Estado. Este é um trabalho primário, de dia a dia
CC: Esse diagnóstico de que a esquerda precisa voltar para a base não é novo e, na verdade, já virou um lugar comum. Por que é tão difícil colocar esse discurso em prática?CG: Em primeiro lugar, para fazer isso é preciso que os quadros da esquerda não façam só a autocrítica pública, mas imprimam um desdobramento prático a autocrítica.
E como fazer esse desdobramento? Os quadros precisam estar dispostos a acolher, em seus aparelhos, sindicatos, centros acadêmicos, diretórios, comissões de fábrica, etc, novos membros, com mais coragem para se apresentarem às bases em nome de um partido ou organização. Porque o que está acontecendo é que a esquerda está envergonhada.
Quando ela vai à base é nos processos eleitorais internos, como uma eleição do sindicato. Fora disso, ela se recolhe e, vamos ser justos também, porque os próprios militantes precisam correr atrás de um ritmo de produtividade imposto pelo capital. Veja, o militante tem que responder ao patrão e também ao partido que também funciona como uma empresa, que estabelece metas para o militante. Ele precisa dar retorno sobre numero de votos, de panfletos distribuídos etc.
Essa numerologia do trabalho do militante, seja o trabalho para o seu patrão do capital ou para o patrão do partido, esvazia de conteúdo efetivo a prática do militante.
A esquerda precisa ser mais humilde, mais disposta a acolher uma diversidade de métodos e de formas de pensar porque a esquerda viciou-se em seu próprio conforto. Qualquer sujeito que critique seus métodos é expurgado. Não basta a autocrítica pública, é preciso acolher a crítica do companheiro.
CC: Como essas críticas são recebidas? CG: Qualquer um que faz críticas “pela esquerda” à esquerda é visto como alguém que alimenta e favorece a direita. Quando a esquerda perceber que a crítica pela esquerda é algo que faz com que ela avance, ela avançará.

sábado, 22 de julho de 2017

Pedidos de filiação ao PT crescem após condenação sem provas de Lula

Nem os ataques diários na mídia e nas redes sociais nem a perseguição política conseguem encobrir que o povo sabe que o Partido dos Trabalhadores é o partido que realmente luta ao seu lado todos os dias.
Provas disso são a crescente aprovação ao PT, que hoje lidera na preferência partidária com 18%, segundo o Datafolha, e o crescente número de pedidos de filiação que tem recebido nos últimos dias.
Desde a condenação sem provas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da decisão arbitrária do juiz Sérgio Moro, no dia 12/7, até a manhã desta segunda-feira (17), o Partido dos Trabalhadores recebeu 3.127 pedidos de filiação.
Os números foram contabilizados a partir de pedidos feitos apenas a partir da ferramenta disponibilizada pelo PT no site oficial.
Os números atestam não apenas o papel da aguerrida militância do PT em resistir aos ataques frequentes contra sua principal liderança, mas também que as trabalhadoras e os trabalhadores conseguem enxergar além da narrativa golpista.
O povo sabe que o Brasil cresce com o Partido dos Trabalhadores. O povo sabe que Lula é quem sabe fazer, já fez e pode fazer de novo.
Um dia após a notícia da condenação, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, já havia ressaltado, em coletiva de imprensa realizada na sede do partido, em São Paulo, que as injustiças sempre foram o motor do Partido dos Trabalhadores.
“Foi pela injustiça com o povo brasileiro que o PT chegou ao poder”, lembrou ela, ressaltando que a sentença do juiz Sérgio Moro não tem base legal.
Os pedidos de filiação estão em processo de aprovação. Neste processo, o interessado deve assistir ao vídeo da Escola de Formação, que explica sobre o PT, e também responder responda ao e-mail de confirmação. Após estes procedimentos, é preciso aguardar prazo de sete dias para impugnação.

Democracia com Lula


 
Defender o ex-presidente das injustiças do judiciário brasileiro significa, neste momento, uma defesa da classe trabalhadora - Créditos: Mídia NinjaAs Ligas Camponesas marcaram a história de lutas do povo nordestino na década de 1960, particularmente na Paraíba e em Pernambuco. Tais Ligas surgem como fruto de uma conjunção de elementos: condições de vida difíceis, exploração por parte dos patrões e o desejo, por parte da classe trabalhadora, de tomar as rédeas do poder para ter o domínio do seu futuro.

Naquela época, a exemplo de muitos outros momentos na história, a classe dominante optou por se utilizar da violência para atacar e enfraquecer a organização da classe trabalhadora. Um das vítima desta violência foi João Pedro Teixeira, importante líder naquele momento, brutalmente assassinado pelo fato de ter um sonho e lutar pela organização dos trabalhadores e das trabalhadoras. Sua esposa, e importante líder do movimento Elizabeth Teixeira, foi obrigada a viver, então, em um auto exílio, se afastando de filhos e família por muitos e muitos anos. Sua história, inclusive, vem a ser mais conhecida pelo filme Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho.

Apesar dos mais de 50 anos que nos separam daquele período, não há como não fazer um paralelo. A condenação imposta ao ex-presidente Lula sem uma prova sequer nada mais é que uma forma de atacar e buscar enfraquecer a classe trabalhadora em nosso país. Guardadas as proporções, o que temos assistido ao vivo é uma tentativa de assassinato político contra o presidente Lula. Mais do que ao Lula, trata-se de uma investida contra os direitos políticos de uma classe que resiste e ainda quer derrubar o golpe de Estado pelo qual passamos desde 2016.

Com outros métodos, mais de 50 anos depois assistimos ao mesmo modelo. A classe dominante de nosso país, se vendo impossibilitada de ganhar nas urnas, derrubou uma presidenta eleita e se aproveita da situação para tirar vários de nossos direitos, como a aposentadoria, e quer dar o golpe final impedindo que Lula possa ser candidato novamente.

É com este sentimento que ocorreram atos em dezenas de municípios, nas capitais e interior do país, em defesa de Lula. Defender o ex-presidente das injustiças do judiciário brasileiro significa, neste momento, uma defesa da classe trabalhadora. A defesa de que a elite deste país não tem o direito de fazer o que quer. O povo tem que participar.

E assim como resistimos com muito sangue e terminamos por derrubar a ditadura militar, é tarefa nossa continuar resistindo a mais esta fraude. Continuaremos dizendo não a este golpe que nos atinge economicamente, com retiradas de direitos, e politicamente, com a tentativa de inviabilizar o Lula. O povo brasileiro está cada vez mais convencido de que a retomada da normalidade democrática é condição essencial para saída da crise na qual fomos colocados. E disso não abrimos mão.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Vereadora Christiane Pinheiro faz apelo e pede doação de sangue para o filho de 4 anos

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João Ricardo
O filho da vereadora Christiane Pinheiro está internado no hospital da Unimed, precisando fazer uma transfusão sanguínea, o blog faz o apelo para quem puder fazer essa ação e ir até o Hemocentro do Piauí (Hemopi) em Teresina fazer sua doação, pode ser qualquer tipo sanguíneo, chegando no mesmo identifique o nome do paciente João Ricardo Pinheiro do Rêgo.

O blog deixa faz o apelo, e deposita força para a família e saúde para o grande João Ricardo nesse momento.