quinta-feira, 25 de maio de 2017

Triste país onde depredação é escândalo, mas massacre de dez posseiros, não


Informações preliminares dão conta que ainda há 14 pessoas feridas durante ação policial - Créditos: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil
Mário Magalhães – 
Foto:  Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil
 Dez posseiros foram mortos ontem de manhã numa ação de policiais militares e civis no Pará. Na fazenda Santa Lúcia, na cidade de Pau D’Arco, não houve conflito ou confronto, os substantivos que buscam disfarçar os fatos e edulcorar a história.
De um lado, o dos agricultores, dez perderam a vida.
Do outro, não se contou morto ou ferido. Logo, inexistiu choque de forças simétricas. Ocorreu um massacre. Ou chacina.
A crônica do extermínio de lavradores naquele Estado ganha mais um capítulo. Em abril de 1996, na curva do S da rodovia PA-150, PMs fuzilaram 19 manifestantes. O episódio ficou conhecido como massacre de Eldorado do Carajás.
Os nove homens e uma mulher assassinados ontem receberam comedida atenção do noticiário e dos brasileiros. A covardia não provocou escândalo, indignação, queixas inflamadas. A não ser as escassas vozes que teimam em não reconhecer como natural o que não é.
Os brados de cólera condenaram a depredação de prédios públicos em Brasília. E seus depredadores, que compuseram parte diminuta da multidão contada em dezenas de milhares que protestou contra Michel Temer e reivindicou a antecipação da eleição presidencial direta.
Antes do ataque aos edifícios de ministérios e do fogo colocado nas bicicletas do Itaú, os manifestantes foram fustigados por cavalaria. Mais tarde, um policial que não estava acuado disparou com arma na direção de quem estava desarmado ou ao menos não atirava.
Temer convocou as Forças Armadas para a segurança na capital. Para além da controvérsia sobre a constitucionalidade do recurso, o governo agonizante pretendeu dar demonstração de poder. E da capacidade de intimidar. Tais propósitos são evidentes como a fumaça que enevoou a esplanada brasiliense. O pretexto para apelar às tropas é a defesa do patrimônio público.

PM mata dez sem-terra no sudeste do Pará Foto: CPT. Montagem: Brasil 24/7  
Imagem muito forte, muito mais do que vidros quebrados em ministérios ontem em Brasília. Esta é a escolha do atual Governo, do Congresso eleito pelos “donos do Brasil” e, sobretudo do Agronegócio, junto com os três poderosos grupos parlamentares: do Boi, da Bíblia e da Bala, para os brasileiros do Brasil real. E é o terceiro massacre em cerca de um mês: Mato Grosso, Maranhão e Pará. Não precisamos de Daesh/Estado Islâmico ou do Boko Haram para ver massacres no Brasil. A polícia a serviço dos poderosos “resolve” – NdR




Na boca de outros, faria sentido. Mas não na da administração cujo zelo pela coisa pública é o que é….
O nonsense parece indicar uma tendência nacional: quanto mais ladrão de dinheiro público o sujeito é, mais ele se esgoela em defesa do patrimônio público. A equação não se aplica a todos, pois os sinceros sobrevivem. Porém, somos mesmo o país da hipocrisia.
Essa constatação não implica endossar os danos ao patrimônio dos cidadãos, que acabarão por pagar a conta. Mas ajuda a compreender o contexto da radicalização. Quem é mais vândalo: o indivíduo que atira uma pedra em vidraça de ministério ou um governante que combina propina de 500 mil reais por semana, a ser embolsada durante 30 anos?
Os sermões contra a corrupção se sucedem, mas ela permanece. Aparentemente se ampliou nos governos FHC, Lula, Dilma e Temer. A roubalheira só dos anos 1990 para cá _a gatunagem existia antes, também na ditadura_ permitiria consertar alguns milhões de vezes o estrago da quarta-feira.
Os vândalos de ontem são dentes de leite em comparação com a corja que vandaliza o Brasil, as instituições em que a democracia deveria prevalecer, os direitos dos mais pobres, as conquistas alcançadas com suor pelos trabalhadores, os programas que impedem a morte por fome, as iniciativas que deixam menos jovens longe da escola e da universidade, os planos de preservação ambiental.
A bronca, como sempre, desvia os olhos da violência e da crueldade dos mais fortes.
O 24 de maio de 2017 não foi o primeiro dia em que a perda de vidas humanas foi desprezada (ou quase), em contraste com a histeria causada pela depredação de prédios.
Nossa coleção de infâmias é vasta.
Triste Brasil.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

O que eu penso sobre Nossa Senhora de Fátima (1)

 
Anselmo Borges  no DN -  28 de abril, 2017
Antes de entrar no tema propriamente dito, quero deixar três notas prévias, que devo ao leitor.
A primeira, para dizer que, a pedido da revista internacional Concilium, escrevi, de modo mais organizado, um texto sobre Fátima, a publicar no mês de Junho.
A segunda, mais importante, para esclarecer que fui ordenado padre em Fátima pelo cardeal Cerejeira e que, sempre que lá vou para fazer conferências, passo pela Capelinha das Aparições e ali rezo como tantos outros.
Depois, à pergunta se vou a Fátima por causa da vinda do Papa respondo que não, porque não gosto de confusões e penso que os responsáveis da Igreja deveriam prevenir as pessoas, pois correm o risco de uma imensa desilusão, já que muitas dificilmente verão o Papa. Prestado este preâmbulo, o tema.
1. Deve ficar claro, desde o princípio, que Fátima não é dogma de fé. Que é que isto significa? Que se pode ser bom católico e não acreditar em Fátima. Fátima não faz parte do Credo. Outro esclarecimento mais urgente ainda: Fátima não ocupa nem pode ocupar o centro do cristianismo, o centro é Jesus de Nazaré, confessado como o Cristo, portanto, Jesus Cristo, e o Deus de Jesus e as pessoas, todas.
Aí está a razão por que, como disse a João Céu e Silva para o seu belo livro sobre Fátima, Fátima. A Profecia Que Assusta o Vaticano, eu trouxe a Portugal grandes teólogos, para congressos e colóquios, e não manifestaram interesse em ir a Fátima. De facto, Fátima não é propriamente uma questão teológica, é sobretudo uma questão de religiosidade popular. De imenso significado e que deve ser respeitada, sem dúvida alguma.

2. Para surpresa de alguns, confesso que não me custa admitir que as três crianças, os pastorinhos, tenham feito uma verdadeira experiência religiosa em Fátima.
Qualquer pessoa minimamente atenta, quer queira quer não, acaba por perceber que há um mistério no mundo. Fernando Pessoa dizia: olha para o lado e o mistério está lá (cito de cor), mas eu digo mais: ele está ao lado, em cima, em baixo, dentro, fora, em toda a parte.
E todos somos confrontados com esse enigma e mistério e perguntamos:
  • o que é isto?,
  • qual é o fundamento de tudo?,
  • qual é o sentido da existência?,
  • para quê tudo?
Crente é aquele, aquela, que se entrega confiadamente ao Mistério, ao Sagrado, esperando dele sentido, sentido último, salvação. Escusado será dizer que essa experiência e essa resposta confiada de fé surgem sempre interpretadas num determinado contexto
  • existencial,
  • pessoal,
  • social,
  • histórico,
no quadro de pressupostos e expectativas, e na e pela sua mediação também.
“Capelinha das aparições”. Foto da internet
3. As crianças também podem fazer uma experiência religiosa. E isso, repito, pode ter acontecido também em Fátima com aquelas crianças, os três pastorinhos. De facto, não consta que tenham sido pagas para dizer que viram Nossa Senhora; pelo contrário, até sofreram bastante. A própria Igreja, no começo, pôs muitas reticências.
Mas, acrescento, foi uma experiência religiosa, evidentemente, à maneira de crianças e no contexto histórico da altura:
  • havia perseguição religiosa da Igreja por parte da Primeira República,
  • estava-se em guerra (as crianças devem ter ouvido falar sobre a I Guerra Mundial e de como os soldados partiam para a guerra),
  • e vivia-se no enquadramento religioso da época,
que implicava
  • as chamadas missões populares,
  • com pregadores “missionários” que vinham de fora
  • e, do alto dos púlpitos, aterrorizavam os fiéis com sermões de temor de Deus e terror do inferno.
As crianças ouviam estas coisas na igreja e em casa.
Assim, tratou-se de uma experiência religiosa à maneira de crianças e segundo esquemas e uma imagética hermenêutico-interpretativa situada no seu contexto. Não se pode esquecer que a experiência religiosa se dá sempre dentro de uma interpretação, de tal modo que há experiências religiosas melhores e piores ou menos boas.
A daquelas crianças não foi das melhores, pois pode-se, por exemplo, perguntar: que mãe mostraria o inferno a crianças de 10, 9 e 7 anos? Os pastorinhos ficaram marcados negativamente e, de algum modo, com a vida tolhida. Ao mesmo tempo, e isso é admirável, tiveram uma imensa generosidade face à situação que viviam.
Acrescente-se que aquele núcleo de experiência
  • foi sendo submetido a arranjos e rearranjos ao longo do tempo,
  • segundo novos esquemas interpretativos,
  • no contexto de novas situações históricas e novos desenvolvimentos.
4. Perguntam-me: e eles viram mesmo Nossa Senhora? Maria, a mãe de Jesus, apareceu mesmo?
Aqui, é decisivo fazer uma distinção essencial. Entre aparições e visões.
Uma aparição é objectiva, como, quando, por exemplo, estamos a conversar com uma pessoa e chega uma outra pessoa: os dois vemos a terceira pessoa que chega; se estivéssemos quatro ou cinco pessoas, seríamos quatro ou cinco a ver e a constatar a chegada objectiva desta outra pessoa.
Evidentemente, não foi isso que aconteceu em Fátima e, neste sentido, é claro que Nossa Senhora não apareceu em Fátima aos pastorinhos. Se fosse uma aparição, todos os presentes veriam e constatariam a sua presença, o que não aconteceu nem podia acontecer, pois Maria não tem um corpo físico que possa mostrar-se empiricamente.
Tudo o que é espiritual é da ordem espiritual. Por exemplo, na Anunciação, não apareceu empírico-objectivamente nenhum anjo a falar com Maria.
O que ela teve foi uma experiência místico-religiosa interior. Isso é uma visão, no sentido técnico da palavra: uma percepção interior. As grandes experiências são interiores e vão para lá do empírico. Afinal, a objectividade empírica não detém o monopólio de toda a realidade, da realidade mais verdadeira. (Continuaremos).
Anselmo 2
Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

O que eu penso sobre Nossa Senhora de Fátima Parte 2

Anselmo Borges – 


Foto: Chegada de Peregrinos – Internet

Fátima precisa de ser evangelizada. Evangelho quer dizer notícia boa e felicitante, mas, frequentemente, como bem viu Nietzsche, o que se anunciou foi um Disangelho: uma notícia desgraçada e que arrastou consigo imensa infelicidade.
No Evangelho segundo São Marcos, Jesus inicia a sua vida pública, proclamando: “Metanoiete”, cuja tradução normalmente é: “Fazei penitência”, mas realmente o que lá está é: mudai de mentalidade, de modo de pensar; portanto, mudai de vida, de mentalidade, de atitude, e acreditai no Evangelho.

1 – Um problema maior deste tempo são a pressa, a imediatidade, a fragmentação.
  • Alguém pára para pensar, para verdadeiramente se informar, reflectir?
  • Alguém lê livros?
  • Sim, livros?
Porque um livro, quando é bom,
  • dá que pensar,
  • e tem princípio e meio e fim
  • e aberturas para lá dele
  • e é preciso dialogar com ele
  • e os seus pressupostos e os seus horizontes.
Mesmo num jornal, lê-se a notícia toda ou só o título? Afinal, um dos grandes perigos de hoje é que
  • se vive de flashes,
  • de impressões,
  • na vertigem de um tsunami de informações e opiniões dispersas, intoxicantes.
No passado dia 14 de Abril, o jornal Expresso titulava na primeira página:
“É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima” (Anselmo Borges). E remetia para uma entrevista na página 22. É claro que quem só leu este título ficou enganado. É verdade que eu disse aquilo. Mas quem foi ler a entrevista?
Quem leu encontrou o que é fundamental: a necessária distinção entre “aparição” e “visão”:
“Posso ser um bom católico e não acreditar em Fátima porque não é dogma. Não me repugna, contudo, que as crianças, os chamados três pastorinhos, tenham tido uma experiência religiosa, mas à maneira de crianças e dentro dos esquemas religiosos da altura. É preciso também distinguir aparições de visões. É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima. Uma aparição é algo objectivo. Uma experiência religiosa interior é outra realidade, é uma visão, o que não significa necessariamente um delírio, mas é subjectivo. É preciso fazer esta distinção.”
http://assets-oir.youongroup.com/1a93bfdc2c745936d7e62efa3b843f01/rlgfqukemEiW.jpg?w=1140&h=450&q=90
Fátima: Chegada de Peregrinos. Foto: internet
Como já aqui expliquei, é evidente que Maria não apareceu fisicamente em Fátima, pois o crente na vida plena e eterna em Deus sabe que
  • essa vida é uma nova criação, para lá do espaço e do tempo;
  • não é segundo o modo da vida neste mundo.
Mesmo a ressurreição de Jesus
  • não é a reanimação do cadáver, é evidente,
  • e, por isso, está para lá das manifestações físico-empíricas.
Eu acredito na vida eterna e que Jesus está vivo em Deus. Como é? Ninguém sabe. As grandes experiências, as que decidem da vida e da morte e do sentido da existência e da história, são interiores. É neste dinamismo que estão as experiências da fé religiosa, mesmo se – a experiência nunca é pura, nua – se dão no quadro de
  • esquemas,
  • figuras e imagens interpretativos,
  • segundo as situações,
  • os tempos
  • e os contextos.
O referente – pólo objectivo – é sempre o mesmo:
  • o Mistério,
  • o Sagrado,
  • Deus,
  • Presença transcendente-imanente,
que o crente – pólo subjectivo - experiencia como Fundamento e Fonte de salvação.
Percebe-se então que há experiências religiosas melhores e outras menos boas. E lá está na entrevista:
“E por isso digo que é necessário evangelizar Fátima, ou seja, trazer uma notícia boa. Porque mesmo para aquelas crianças aquela não foi uma notícia boa: que mãe mostraria o inferno a uma criança?”
2 – Qual é o núcleo da mensagem de Fátima?
Em primeiro lugar, a oração. É uma grande mensagem? É. Para crentes e não crentes. Quem não precisa de rezar? Não necessariamente dizendo orações, embora os cristãos tenham a oração essencial que Jesus ensinou: o pai-nosso”, onde está o núcleo da vida:
  • a ligação à Transcendência, que é Amor;
  • que o Reino de Deus venha: o Reino da verdade, da justiça, da dignidade livre e da liberdade na dignidade para todos e que lutemos por isso; a gratidão face ao milagre exaltante da Vida;
  • o pão para todos;
  • o milagre do perdão;
  • a atenção ao essencial da vida, para se não cair na tentação da desgraça, do mal que fazemos a nós próprios e aos outros.
A oração implica parar para escutar o silêncio e o que só no silêncio se pode ouvir:
  • a voz da consciência e da dignidade,
  • meditar, descer ao mais fundo de si,
  • lá onde se encontra a ligação com a Fonte,
  • donde tudo vem e onde tudo se religa
  • e se faz a experiência do transtempo,
  • para se poder viver no tempo sem se afundar na dispersão e no vazio.
A outra mensagem: “Fazei sacrifício e penitência.” E aquelas crianças até a pouca comida que tinham davam às ovelhas pela conversão dos pecadores.
Fátima precisa de ser evangelizada. Evangelho quer dizer notícia boa e felicitante, mas, frequentemente, como bem viu Nietzsche, o que se anunciou foi um Disangelho: uma notícia desgraçada e que arrastou consigo imensa infelicidade.
No Evangelho segundo São Marcos, Jesus inicia a sua vida pública, proclamando: “Metanoiete”, cuja tradução normalmente é: “Fazei penitência”, mas realmente o que lá está é:
  • mudai de mentalidade, de modo de pensar;
  • portanto, mudai de vida, de mentalidade, de atitude,
  • e acreditai no Evangelho.
Jesus anunciava: “Ide aprender o que isto quer dizer: Deus não quer sacrifícios, mas justiça e misericórdia.” O que Jesus declarava era uma boa-nova:
  • Deus é Amor,
  • Fonte de vida,
  • Liberdade criadora,
  • que quer a vossa felicidade.
“Não tenhais medo”, é outra palavra constante de Jesus. Mas, realmente, o que se pregou muitas vezes foi um deus
  • da tristeza,
  • do medo,
  • do terror,
chegando-se ao limite de pregar que Deus precisou da morte do próprio Filho para se reconciliar com a humanidade.
Foi deste deus que Nietzsche proclamou a morte, porque perante um deus assim só se pode desejar que morra.
É completamente diferente o que está no Evangelho.
Jesus não foi morto para aplacar a ira de Deus, Ele entregou-se à morte e morte de cruz para dar testemunho da Verdade e do Amor: o único interesse de Deus é que os homens e as mulheres, todos, sejam plenamente realizados e felizes.
Esse é o sentido do sacrifício: não o sacrifício pelo sacrifício, mas o sacrifício que traz vida. O sacrifício pelo sacrifício não vale nada, mas, por outro lado, sem sacrifício, nada de grande, de verdadeiramente valioso, se realiza.
“Mudai de mentalidade”: batei-vos
  • pela vida,
  • pela justiça,
  • pela paz,
  • pela felicidade,
  • pelos direitos
  • e pela dignidade divina de cada homem e de cada mulher, de todos.
Sacrificai-vos por isso. É o que Deus quer e o que vale a pena. Para sempre.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

VEREADORA CHRISTIANE PINHEIRO PROMOVE AULÃO DAS MÃES EM MATÕES

 A vereadora Christiane Pinheiro estará promovendo, dia 16 de maio, o aulão de aeróbica para as mães matoenses, em virtude da passagem do dia dedicado às mães.

É uma homenagem da vereadora para todas as mães de nossa cidade.

O evento acontecerá na Praça Lula Pereira a partir das !8:30 horas e será conduzido pelo professor  de aeróbica Kleber Bernardo.

terça-feira, 2 de maio de 2017

GOVERNADORES LANÇARÃO CARTA DE APOIO À CANDIDATURA DE LULA