quinta-feira, 30 de julho de 2020

ESTÉTICA

Texto: Professor Luciano Matias
Estética como Ramo da Filosofia - Aula IX Filosofia Estética - O ...

Continuando a reflexão sobre os grandes temas filosóficos, enfrentaremos hoje a questão da estética. Do  grego "aisthésis" significa percepção,sensação,sensibilidade.

Filosoficamente a estética não se refere especificamente a maquiagens, a padrões estereotipados mercadologicamente pelo capital. Nem somente à beleza física.

Estética é o estudo dos fundamentos da arte, da beleza e da natureza. Sobrepõe-se portanto ao conceito do senso comum.

Para Aristóteles, a estética decorre da harmonia das partes de um objeto entre si em relação ao todo.Harmonia e ordem.

A estética procura os fundamentos últimos da arte e do belo. A arte é própria do ser humano,pois decorre da sensibilidade, porém deve ser consciente. O ser humano é o único que produz arte e sabe que produz.O Homem sabe e sabe que sabe.

A estética surge como forma de racionalizar o belo. O belo aqui como algo que não leva em conta os padrões etnocêntricos impostos pelo desejo incansável pelo lucro, mas pela teorização da diversidade espaço-temporal atribuídas à práxis cultural histórica e, portanto, contextualizada dos povos.

A estética surge como reflexão sobre a produção criativa  da humanidade.

Derivam dessa reflexão muitas questões sempre atuais: o que é o belo? Quem determina o que é belo e o que é feio? Quem determina o valor da arte? O que pode ser considerado obra de arte?

As respostas a estas questões se definem sempre a partir do ponto de vista do dominante,daquele que se propõe a contar a história a partir de sua visão elitista e,desconsiderar as várias histórias, de diversos modos,tempos e lugares,que perpassam e verdadeiramente constroem o caminhar humano,mesmo que nos recônditos,onde se julga eliminados.

Necessariamente com a arte popular acontece a mesma coisa, ela é alijada do que se cunhou afirmar como verdadeira arte,mas está pujante nas pequenas manifestações culturais cotidianas e, dali tornando-se motor primeiro do fazer artístico humano, e é ali que a estética, por primeiro, busca refletir o ser humano, na sua capacidade imanente e, pode parecer paradoxal, transcendental de fazer-se humano.

Por fim, é na beleza natural,filosoficamente falando, que contemplamos a face de Deus, que cria artisticamente e contempla amorosamente sua criação.

 Esse último ponto nos ligará ao tema da próxima semana sobre a Religião.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

ÉTICA

Texto: professor Luciano Matias


Resultado de imagem para IMAGEM DE ÉTICA  Neste artigo semanal e nos próximos, abordarei os grandes temas filosóficos,que sempre nortearam o caminhar da espécie humana:ÉTICA,ESTÉTICA,RELIGIÃO E POLÍTICA. iremos nos debruçar sobre estes fundamentos humanos. Hoje refletiremos sobre a importância da ética,enquanto teorização do bem viver individual e coletivo.

A palavra ética vem do grego "ethos" e relaciona-se com caráter,modo de ser, costumes. O filósofo grego Sócrates afirmava que o homem não é mau, mas ignorante,por isso devia buscar sempre mais o conhecimento como forma de ascese moral. Primeiro devemos conhecer a nós mesmos;"Conhece-te a ti mesmo" argumentava Sócrates.

Quem somos? Que referência temos para agir? Em que ou em quem nos espelhamos? Quais as nossas limitações? Quais meus objetivos na vida? Eles me fazem crescer enquanto indivíduo e  enquanto pessoa? Estas questões são basilares para a compreensão do meu ser e,só assim compreender as minhas relações.

Platão descola a ética das condutas humanas e a coloca no mundo inteligível,teórico,ideal. Portanto,é algo transcendente. E a capacidade de tomada de decisões,para este filósofo, é regida pela sabedoria.

Aristóteles relaciona a ética com a busca da felicidade, e esta, só é alcançada com a capacidade do ser humano de manter o equilíbrio nas suas atitudes.Daí que a prudência,a temperança,a fortaleza e a justiça devem regular as relações humanas.

Na Idade Média, o filósofo santo Agostinho, traz a concepção de ética como caminho que nos leva a Deus. Diferente de Aristóteles que coloca a felicidade como objetivo último do ser humano, Agostinho coloca Deus como esse objetivo maior. O amor é o que eleva o ser humano e deve ser a estrutura da ética humana nesse caminhar para Deus,princípio e fim de todas as coisas.

Na modernidade, aparece o filósofo Immanuel Kant pregando  que o homem é livre e autônomo,mas que devem agir de acordo com princípios universais.O que você for fazer, pergunte-se se isso pode ser aplicado para o bem em todos os lugares e em todos os tempos;esse é o hiperativo categórico de Kant.

Para Sartre a liberdade humana é incondicional e, por isso mesmo,condenado a ser livre.
Finalmente,quero retomar a ideia de si,quando na contemporaneidade,Michel Foulcault,expressa a ética como cuidado de si mesmo,

Todas estas  ideias, de uma forma ou de outra,trazem a concepção ética de zelo por si e pelo outro,agindo bem consigo e  em suas relações.

A máxima seguinte não perde a validade: "NÃO FAÇA AOS OUTROS O QUE NÃO QUERES QUE TE FAÇAM".

Próxima semana refletiremos sobre o conceito filosófico de estética.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

PANDEMIA E REDESCOBERTA DE DEUS.

Professor Luciano Matias
A Criação de Adão de Michelangelo: releitura e características ...Nestes tempos sombrios em que vivemos, onde buscamos pelo novo normal, faz-se urgente nos debruçarmos sobre "onde está Deus" e "onde colocaremos Deus nessa nova normalidade". Não podemos modelar Deus à nossa maneira e exigência, mas  modelar a nossa vivência ao jeito e à vontade de Deus.

Mas que Deus? Nos acostumamos a uma figura de Deus carrancudo,raivoso,nervoso. Não, esse definitivamente não é o Deus de Jesus e nem o nosso. Nosso Deus é Pai-Mãe, carinhoso e misericordioso. Oxalá, essa Pandemia e essa criatura minúscula(vírus) que nos traz desastres em todos os aspectos humanos, traga a capacidade de reconstrução de nossa relação com o divino e com o humano.

Karl Marx denuncia que havia o perigo de Deus e a religião tornarem-se o ópio do povo. Esse perigo de fato não existe porque em sua essência, no cristianismo não é possível amar a Deus sem amar o próximo. O amor ao próximo é teológico.

O cristianismo nos coloca como critério de salvação o que se faz pelo outro ser humano e transcende o conteúdo da fé para além da confessionalidade religiosa. No Evangelho de Mateus, capítulo 25, Jesus propõe o resgate do ser humano no divino e do divino no humano, ele definitivamente não pergunta pelo culto a Deus, mas pelo que fizemos ou deixamos de fazer aos outros.

O Deus cristão é Deus criador, entregou-nos o paraíso para cultivar e cuidar, não para explorá-lo; a ecoteologia é fundamental nestes novos tempos,porque, segundo frei Anselmo o grito da natureza é o grito dos pobres e de todos.

Karl Rahner, um dos maiores teólogos do século XX perguntava se a palavra Deus deixasse de existir, o que aconteceria?

E respondia " a morte absoluta da palavra Deus,seria o sinal de que o homem morreu".

Vivemos no ateísmo o interregno dos valores e a humanidade condenada a uma travessia do deserto axiológico de que ninguém pode prover o fim.

Precisamos descobrir Deus que é sentido,fundamento da nossa existência, da nossa História e da nossa essência.

É necessário redescobrir o Evangelho e deixar de anunciar um Disangelho ( do grego dysangelion - má notícia), uma notícia de desgraça.

Devemos descobrir Deus que luta pelos seres humanos, que se interessa pela realização e a felicidade de homens e mulheres.

"Nosso Deus é o artista do Universo". ( Zé Vicente)
      

quarta-feira, 8 de julho de 2020

EDUCAÇÃO E PANDEMIA: PEQUENA REFLEXÃO.

Texto: Professor Luciano Matias
Resultado de imagem para imagem de educaçãoA educação pública brasileira está sofrendo mais um gigantesco revés,desta feita por conta da Pandemia do Covid-19. Gigantesco também são os números educacionais. Segundo o Censo Escolar de 2019 são 38,7 milhões de crianças, adolescentes,jovens e adultos estudando nas redes federal, estaduais e municipais de educação. Na rede privada são 9,1 milhões de estudantes. São 2,7 milhões de docentes e, quase 3 milhões de profissionais de apoio à atividade educacional.

São pessoas atingidas diretamente com a Pandemia e/ou com as suas consequências.Todos eles aprendendo a fazer um novo jeito de aprender e ensinar em sua formalidade.Os 5568 municípios brasileiros estão atônitos com essa nova realidade.

A tecnologia e suas mídias nunca, no âmbito educacional, foi tão requerida e, ao mesmo tempo contestada, em uma relação de contradição e dubiedade.

Certo é que devem ser garantidos os Direitos de Aprendizagem preconizados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aos estudantes. Nesse sentido os calendários escolares devem ser reorganizados assim como as propostas pedagógicas,observando as normas das instâncias responsáveis por conduzirem a educação no País.

Vivemos em tempos de crise, mas isso não é de todo ruim, pois a palavra crise vem do grego Krísis, ação ou tomada de atitude, nesse sentido precisamos agir e rever alguns "normais" da educação.

Precisamos redefinir o papel das escolas neste processo de construção de conhecimentos, habilidades,competências e atitudes; redefinir o papel de cada sujeito educacional;criar novos mecanismos de inclusão familiar na comunidade escolar; promover a saúde e bem-estar da comunidade escolar; trabalhar as competências socioemocionais; desenvolver estratégias para trazer definitivamente a tecnologia para as salas de aula;rever processos de avaliação; reprojetar os espaços escolares, trabalhar a questão das relações humanas.

Vale lembrar neste momento uma afirmação de Paulo Freire " O professor é, naturalmente, um artista, mas ser um artista não significa que ele ou ela consiga formar o perfil,possa moldar os alunos.O que um educador faz no ensino é tornar possível que os estudantes se tornem eles mesmos". Neste momento, mais do que qualquer outro, o professor está concretizando o que sempre afirmou o Patrono da Educação brasileira.

Cabe aqui, para finalizar esta breve reflexão o que Aristóteles afirmou na Grécia Antiga:"É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer".

sexta-feira, 3 de julho de 2020

NORMAL...?

Texto: professor Luciano Matias
Resultado de imagem para imagem de fomeVivemos em tempo de desconstrução do "normal". Mas, o que é ou o que foi este normal? 

A humanidade tem vivido um processo enorme de desumanização e, pior, tem vivido isso com normalidade. A maioria dos habitantes deste grão de poeira,chamado planeta Terra, vive ou sobrevive sem o mínimo de dignidade humana; bilhões são os que passam fome;outros tanto são os que vivem sem água potável,sem esgoto,sem banheiro adequado.

Poucos esbanjam luxo,muitos vivem na extrema pobreza. Poucos estragam comida,muitos passam fome.Poucos tem terra em abundância,muitos não tem onde reclinar a cabeça. Poucos tem acesso a uma saúde de ponta,muitos morrem à míngua na fila dos hospitais. Normal?

Nosso planeta e seus recursos não são apenas explorados para a sobrevivência humana,o que existe de fato é um verdadeiro crime contra a nossa "casa comum", como designa o Papa Francisco. 
O racismo torna-se mais proeminente,o autoritarismo político e as ditaduras travestidas de democracia solapam nossa convivência social. O ter supera o valor do ser.

Nossa sociedade é regida por critérios de capacidade de consumo,paga-se por tudo, desde o nascer até o morrer. O individualismo é marca profunda e cicatriz que não se fecha em nossas relações humanas. O hedonismo perpassa a existência,coisificando corpos e desvalorizando o belo do caráter humano. Aliás a beleza toma padrões dos povos ditos civilizados e renuncia-se, assim, à verdadeira beleza de cada povo e cultura.

A cultura é homogeneizada a partir de estruturas etnocêntricas dos povos que se declaram dominantes. A diversidade e riqueza de representações simbólicas que caracterizam e trazem identidade a muitos povos são excluídas.

Estas características são marcas do normal. Excludente,desagregador,desumano. 

Quando tratamos só do Brasil, acrescentamos a marca da relação casa-grande/senzala. Relação que ultrapassa todos os sistemas e formas de governo que já experimentamos.

 Resta saber o que será esse "novo normal".