domingo, 5 de novembro de 2017

Bispos brasileiros defendem a abertura a padres casados


 O Sínodo da Amazônia, em 2019, provavelmente inserirá o tema-tabu que, há anos, foi rejeitado pelo Vaticano: a possibilidade de ordenar os viri probati para suprir a falta de sacerdotes em muitos lugares inacessíveis, dentro da imensa região americana. 
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Franca Giansoldati– 03 Novembro 2017
Imagem: Papa Francisco e bispos da região, preocupados com a Amazônia
Na pilha de dossiês que pesam sobre a escrivaninha do Papa Francisco em Santa Marta, jaz uma proposta tão inovadora a ponto de ser potencialmente anunciadora de mais dores de cabeça para o pontificado.
Trata-se da questão dos padres casados.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 02-11-17

Desta vez, da forma como as coisas estão avançando, o tema-tabu parece realmente destinado a entrar na agenda sinodal de 2019. Todos os bispos da região panamazônicaforam convocados a Roma para discutir e identificar “novos caminhos para a evangelização” dessa vastíssima região da América Latina, onde a Igreja sofre por causa do escasso número de padres à disposição.
Há muito tempo, as vocações no Brasil não conseguem mais enfrentar as exigências territoriais de centros habitados disseminados pela floresta, muito longe e difíceis de alcançar.

cardeal Claudio Hummes, grande eleitor do Papa Bergoglio (a ele é que se deve o nome de Francisco, sugerido ao recém-eleito depois do conclave) está decidido a encontrar uma solução viável e definitiva para enfrentar a emergência endêmica dos sacerdotes no território.
O projeto do cardeal, que também é presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, é de fazer com que seja aprovada no Sínodo de Roma a possibilidade de ordenar viri probati, homens casados e de grande fé, capazes de administrar espiritualmente uma comunidade de fiéis.
Hummes continua repetindo que o celibato não pode mais ser considerado uma espécie de dogma e que, portanto, poderia ser discutido em Roma, durante o Sínodo.
Nestes dias, o secretário da Comissão para a AmazôniaDom Erwin Kräutler, até alguns meses atrás bispo da Prelazia do Xingu, também manifestou publicamente a urgência de dar a essa região a possibilidade de ordenar homens casados e, outra hipótese, proceder a ordenação de diaconisas.
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Foto: sertão baiano
O assunto teria sido abordado diretamente com Bergoglio, que, segundo a agência austríaca KNA, disse: “Escute os bispos e diga-lhes que façam propostas concretasa e corajosas”.
Superar as barreiras existentes na Igreja não será fácil, mas Kräutler está confiante e conta que, na Amazônia, muitos fiéis, não tendo mais um pároco, deixam-se atrair por outras confissões ou pelas seitas.
Assim, o Sínodo sobre a Amazônia – agendado para daqui a dois anos, mas já em vias de preparação –,
  • além de temas ligados à defesa ambiental,
  • ao risco do desmatamento do maior pulmão verde do planeta,
  • à proteção dos povos indígenas,
  • provavelmente inserirá o tema-tabu que, há anos, foi rejeitado pelo Vaticano: a possibilidade de ordenar os viri probati para suprir a falta de sacerdotes em muitos lugares inacessíveis, dentro da imensa região americana.
No Brasil, a maioria dos bispos, sobre os viri probati, gostariam de ter uma palavra clara. Naturalmente, o interesse do Sínodo continua sendo o futuro da Amazônia, onde a carência vocacional poderia se tornar dramática. A possível decisão do papa em favor dos viri probati ad experimentum para a região, porém, poderia abrir um precedente e induzir, no futuro, outros episcopados interessados em avançar, como a Alemanha, a Bélgica, a Áustria, a República Tcheca, e lançar um debate interno.
Na prática, o teste brasileiro poderia desencadear um sistema secular e dar origem a oposições contrárias à inovação. Em suma, problemas à vista para o Papa Francisco.

Franca Giansoldati


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